Adoção: conheça o aplicativo A.DOT

No dia 25 de maio é comemorado o “Dia Nacional da Adoção”.

Já escrevemos por aqui alguns artigos sobre o tema – se você ainda não leu, clique aqui para acessar o conteúdo disponível – tem até texto com a participação da Maria Claudia, que foi adotada ainda bebê e que topou dividir um pouco da sua história superespecial com a gente.

Agora, queremos trazer um assunto que alia adoção à tecnologia! 

Sabemos que muitas inovações tecnológicas vêm surgindo para facilitar a vida das pessoas e também os processos judiciais. Contudo, nem sempre conseguimos visualizar como essas novidades são aplicadas na prática. 

O texto de hoje traz um exemplo de como isso pode acontecer, já que é sobre um aplicativo desenvolvido para auxiliar a adoção de crianças no Brasil, lançado há dois anos: o A.DOT.

O aplicativo foi desenvolvido tendo por objetivo a contribuição para uma melhoria do processo de adoção. Por meio dele, aqueles que estão na “fila” para adotar podem conhecer melhor as crianças e os adolescentes que se encontram em condições jurídicas de serem adotadas – inclusive aquelas que não têm o perfil inicialmente escolhido pela maioria dos pretendentes a adotar.

Os idealizadores do projeto enxergam o aplicativo como uma forma de retirar da invisibilidade as crianças e adolescentes em condição de adoção.

Acreditando que existem muitas pessoas que desconhecem esta plataforma, resolvemos falar um pouquinho mais sobre ela aqui no Direito Familiar.

Por isso, convidamos a Adriana Milczevsky Rendak, Presidente da ONG GAACO – Grupo de Apoio Adoção Consciente, e uma das idealizadoras do aplicativo, para explicar como foi o processo de criação do app.

Ah, pedimos para ela contar um pouco da sua história também, afinal, ela é mãe de dois meninos que vieram pela adoção!

QUANDO E COMO SURGIU A IDEIA DO APLICATIVO?

ADRIANA: Eu sou jornalista, e como jornalista, eu sempre tive um sonho: de poder gravar vídeos com abrigados e mostrar esses vídeos para a sociedade. Por quê? Porque na minha cabeça, eles eram invisíveis. Na minha cabeça, eles só se tornavam visíveis quando completavam 18 anos, e então eles se tornavam visíveis na nossa cabeça, normalmente com uma arma, né?

Eu comecei a me envolver muito com o trabalho dentro das instituições, por conta da ONG, e vivia com aquelas crianças, vendo que elas estavam ali, mas não são vistas socialmente, não circulam muito entre nós. Elas têm uma rotina muito de escola/lar, lar/escola. E isso as tira de circulação, as tira do nosso contato com elas; faz elas não serem um problema para a sociedade. Elas são um problema social, mas não são para a sociedade, porque a sociedade não as enxerga.

Então o meu sonho era esse: mostrar que elas existem, pra não venham a ser um problema. Para mim, e socialmente nós vemos que é isso, um dos motivos para essa violência que nós vemos nas ruas é a falta de uma família estruturada. Uma pessoa que tem uma família, uma casa para voltar, uma comida para comer feita em casa, esse vínculo familiar e essa relação afetiva dentro da família, tem menos chance de ser infratora. Então era dentro dessa ideia que eu tinha esse sonho.

Mas aqui em Curitiba (PR), as pessoas mal podem visitar um abrigo, quanto mais entrar lá para filmar e disponibilizar essas imagens. Era um sonho incansável, eu queria fazer um especial de Natal na TV com esses jovens que não têm família, pedindo uma família… Era uma ideia mais ou menos assim, mas eu nunca tive autorização de ninguém, nunca ninguém tinha me dado esse apoio.

Até que, em um dia, eu fui em um encontro nacional dos Grupos de Apoio à Adoção e vi a apresentação de um projeto do Ministério Público do Rio de Janeiro, mostrando que eles tinham um site, através do qual os pretendentes à adoção podiam conhecer as histórias dos abrigados.

Eu pensei, “nossa, é um caminho!”. Na saída dessa apresentação, eu encontrei o Juiz Sérgio Kreuz, que na época era da Vara de Infância de Cascavel, e eu sabia que ele estava vindo para Curitiba, para a Corregedoria, e perguntei se ele tinha visto o projeto do MPRJ. Comentei que poderia ser realizado aqui no Paraná, e ele disse que era um projeto muito difícil de ser realizado, que ele não tinha quem fizesse os vídeos. Então eu pedi autorização para fazer os vídeos, me comprometendo, assim, a ser responsável pelas filmagens.

E foi assim que começou o nosso projeto. Nós começamos a conversar, eu chamei outros amigos da área de comunicação, de publicidade, de TI e desenvolvimento de internet. Nossas reuniões foram crescendo, foram aumentando, e nós tivemos a autorização desse Juiz, que é hoje nosso Coordenador do aplicativo, uma pessoa visionária que nos permitiu fazer esses vídeos e realizar esse sonho. Não foi público, não foi na TV, não foi realizado como inicialmente pensado, mas eu sabia que esse era um caminho, era um processo e pensei que, a partir dali, com muito sucesso, quem sabe a gente não pudesse abrir isso para o mundo? Já era um grande caminho!

E foi assim que surgiu o aplicativo, nessa realização para o Grupo de Apoio (GAACO) e para o Tribunal de Justiça, que foi quem autorizou. Com a autorização deles e com uma equipe de voluntários, ficamos um ano no desenvolvimento de toda plataforma, de toda parte gráfica, de toda parte funcional, do formato do vídeo, dos equipamentos. E percebemos que, para podermos crescer, nós precisávamos ampliar a parceria, então começamos a disponibilizar capacitação para outros voluntários e hoje nós já estamos com mais quatro estados para entrar no aplicativo, e dois estados (Mato Grosso e Belo Horizonte) inserindo vídeos, além do Paraná.

A EXPERIÊNCIA DA ADRIANA COM A ADOÇÃO

ADRIANA: Eu sou mãe de dois meninos; os dois vieram pela adoção. A minha história com a maternidade afetiva acontece muito junto com a minha questão profissional, o meu trabalho. Há muitos anos, uns 10 anos pelo menos, eu entrevistei a fundadora da nossa ONG (GAACO – Grupo de Apoio Adoção Consciente), Halia Pauliv de Souza. Aquela nossa conversa ao vivo no Bom Dia Paraná despertou em mim algo diferente em relação à maternidade, e com a orientação dela, eu comecei a buscar informações sobre o tema.

Então primeiro eu me apaixonei pelo tema (adoção), e depois descobri que me apaixonei pelo tema porque essa era a história da minha vida. Até os meus 30 anos, eu não via a maternidade na minha vida, eu não sabia se seria mãe. Mas quando eu entrei em contato com a Halia Pauliv de Souza (a fundadora da ONG), eu descobri que na verdade, não é que eu não queria ser mãe, que não tinha despertado em mim a maternidade, mas que não era essa a minha maternidade, não era a gestação que me levaria à maternidade.

Mais ou menos quatro anos depois dessa conversa com a fundadora da ONG, eu dei a entrada no processo. Antes, foram muitas conversas em casa, com o meu marido. Porque ele tinha um sonho de paternidade biológica e numa conversa nós entramos num acordo de que nós experimentaríamos as duas formas de maternidade/paternidade: a adoção e tentaríamos ser pais biológicos.

Demos a entrada no processo de adoção e veio nosso primeiro filho, com 4 anos. O nosso processo era para irmãos, de até 6 anos e 11 meses. Depois que veio nosso primeiro filho, eu e meu marido até falamos sobre cancelar o processo e tentar engravidar, mas nós nunca tentamos a gravidez biológica, porque ficamos tão envolvidos, foi tão forte, aquela história foi tão nossa, que queríamos sentir de novo e então seguimos com o processo.

Um ano e meio depois, chegou o meu segundo filho, com 38 dias. Ele chegou em casa recém-nascido, com necessidades que naquele momento o tornavam especial, pois ele tinha muitas necessidades pela questão de saúde que ele enfrentava. E hoje eles estão aí, meu primeiro filho com 12 anos e meu segundo filho com 6 anos.

Se você ainda não conhece o A.DOT, nos links a seguir você terá acesso a dois vídeos explicativos, um do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e outro do Ministério Público do Estado do Paraná.

TJPR – https://www.youtube.com/watch?v=0LKN8cHUcJk

MPPR – https://www.youtube.com/watch?v=d9u-Q7lAXKA

E aí, vamos disseminar esta ideia?! Compartilhe este artigo com amigos e familiares!

Arethusa Baroni

Flávia Kirilos Beckert Cabral

Laura Roncaglio de Carvalho

Um comentário em “Adoção: conheça o aplicativo A.DOT”

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